quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Rural ou Urbano



Apesar de o Brasil apresentar uma população predominantemente urbana onde apenas 20% reside em áreas rurais, segundo dados do Censo Demográfico do IBGE (2000), a grande maioria do território continua a ser rural e com grande potencial agrícola. Desta informação surge a pergunta: “eu sou urbano ou rural?”
Vários estudos têm sido feitos no sentido de dirimir esta questão. Alguns estudiosos apontam que a disseminação da idéia que liga ruralidade a algo ruim (atrasado) e, na margem oposta, apresentam o urbano recheado de benesses (modernidade) são os principais responsáveis pela rápida urbanização que se viu no Brasil a partir dos anos 50. Apesar de ser extremamente frutífero o debate acerca das novas características do rural no país, que incluem o acesso a bens que antes só existiam no meio urbano (TV, telefone, internet), vamos nos deter em apenas uma questão: somos realmente urbanos ou ainda somos rurais?
Quando se trabalha com dados do IBGE qualquer analista encontra enorme dificuldade para definir o que é urbano ou rural. Isto ocorre porque o IBGE considera como urbana toda sede do município, ou seja, se é constituído um município considera-se a área como urbana, não se preocupando com fatores estruturais ou institucionais da localidade. O professor José Eli da Veiga no seu livro “Cidades imaginárias” traz um exemplo interessante sobre isto pois, argumenta ele, que se pegarmos o município de União da Serra – RS, que possuía 18 (dezoito) habitantes em 2000, constataremos que esta população é considerada urbana para o IBGE, apesar de não possuir nenhuma outra característica de cidade.
Este fato não seria absurdo se fosse exceção. No entanto, a grande maioria das cidades brasileiras não pode ser considerada urbana pois não apresentam características que as definem como tal. Segundo estudos desenvolvidos em parceria pelo IPEA/IBGE/Unicamp, grande parte dos municípios brasileiros (4,5 mil) não podem ser consideradas urbanas pois, não pode se considerar urbanas as sedes dos municípios que não possuam sequer lei de zoneamento, coleta de lixo domiciliar, IPTU progressivo, varredura de ruas e manutenção de vias, pra não falar em museu, guarda municipal, instituição de ensino superior e outros itens necessários.
Para Goiás, ainda não existem estudos publicados sobre este tema mas alguns pesquisadores já se debruçam sobre a temática que é muito importante para explicar as diferenças de desenvolvimento entre as regiões do estado. Alguns estudos desenvolvidos pelo CEPES-UNIFAN têm buscado entender como esta diferenciação se dá em Goiás ao passo que buscam encontrar soluções para as desigualdades no desenvolvimento regional do estado.
Uma grande dificuldade encontrada nestas pesquisas reside na definição teórica do urbano e rural pois, segundo a filosofia de Hegel, estes conceitos só possuem sentido pela existência do seu oposto (assim como a vida e a morte, bem e mal). Então, não existe urbano sem a existência do rural, e vice-versa. Sendo assim, aquela velha idéia que ser rural é algo ruim deixa de prevalecer e percebe-se que, na verdade, a rural e urbano se complementam.
Em suma, sabemos que o primeiro passo para definir os limites dos espaços urbanos e rurais no Brasil foi dado através da parceria IPEA/IBGE/Unicamp que concluiu que 82% dos municípios brasileiros não podem ser considerados urbanos. Em Goiás, este caminho está sendo trilhado através do CEPES-UNIFAN e de outros pesquisadores conscientes da importância do assunto. Assim, com os resultados destes estudos poderemos dizer se a população goiana é plenamente urbana ou se ainda se caracteriza como rural.

* Edilson Aguiais é vice-presidente do Corecon Acadêmico, Consultor-Júnior na ACL Consultoria Econômica e pós-graduando em Gestão Financeira na UNIFAN (email: edilsongyn@gmail.com)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O prazer da vida roubado pela recompensa

Hoje aconteceu mais uma vez um fato que preciso compartilhar com todos os leitores. Não é algo bonito (pelo menos, não o acho eu) mas é algo que serve, no mínimo, para que comecemos a refletir sobre a sociedade que estamos construindo para nossos filhos e sobretudo “pensar sobre os filhos que estamos criando para a sociedade”.
Por toda a manhã o telefone tocou insistentemente sendo sempre a mesma pessoa indagando acerca de uma pessoa chamada “Uilma” (nome fictício, claro!). A resposta foi por várias vezes a mesma: “- Desculpe, mas não existe esta pessoa aqui” mas a pessoa sempre retornava a ligação. Depois de muitas ligações, dispus-me saber quem era e qual o motivo de tamanha insistência. A pessoa do outro lado se identificou como “Eva” e disse que teve a sua bolsa roubada e com esta todos os documentos. “-O roubo aconteceu ontem e hoje eu recebi uma ligação de uma pessoa dizendo ter achado meus documentos e esta pessoa me passou este número e me pediu para ir buscar os documentos.” Informei-a que infelizmente não tinha conhecimento de nada do tipo mas fiquei sensibilizado pela situação da pessoa imaginando que poderia ser eu na mesma situação.
Não sou nenhum anjo ou algo do tipo mas resolvi me inteirar do assunto. Perguntei onde a pessoa que afirmava ter achado a bolsa tinha pedido para ela ir buscar. Ela me informou o local e algumas referências e, como ficava apenas a 5 km de minha casa, resolvi ir lá e fazer minha “boa ação do dia”. Com alguma dificuldade, consegui chegar ao local indicado e também encontrei a tal “Uilma”, reunida com alguns familiares. Após identificar-me, indaguei acerca dos documentos encontrados e sobre a possibilidade de me entregarem os documentos para que eu os levasse de volta à sua dona.
Naquele momento a feição deles mudou. Percebendo isto e ainda meio sem entender o ambiente, comecei logo a falar sobre uma possível negociação para a devolução de tais documentos. Após surgir a idéia de recompensa entre eles, o ar ficou novamente “tragável” e eu pude dizer-lhes sobre a falta que fazem os documentos pessoais no cotidiano. Então, a “Uilma” me disse que devolvia os documentos desde que eu me comprometesse a convencer a dona dos documentos a lhe dar algo (dinheiro, certamente) em troca. “-Eu quero que ela veja o valor (R$?) desta ação que eu fiz e que me dê algo em troca”, disse a “Uilma”.
Aquela frase me bateu na cabeça como se fosse uma paulada. Escutei o eco daquelas palavras dentro de mim infinitas vezes e, no caminho de volta pra casa, comecei a refletir sobre esta noção de recompensa para todos os atos que são feitos. Quando cheguei em casa, meu sobrinho estava dando ‘birra’ e não queria comer, só aceitando o alimento quando lhe foi prometido um brinquedo novo (e caro).
Comecei a vasculhar minha memória na busca ações desprovidas de recompensa material. Então me lembrei de uma empresa para a qual eu estava dando consultoria onde um funcionário me disse que só mudaria o modo de trabalhar se a empresa lhe desse um “aumento” de salário. Em outra empresa, o funcionário dizia que não fazia todas as tarefas de forma satisfatória porque não tinha – sequer – plano de saúde.
Afinal, que lição pode se tirar desta breve narrativa? As pessoas “modernas” não sabem o que é fazer algo sem exigir imediata recompensa? Onde iniciamos isto e, mais do que isto, quando vamos parar? Ou melhor, ONDE vamos parar se continuarmos deste modo?
Uma sociedade baseada unicamente na troca tira o prazer da vida. A pessoa que não consegue devolver os documentos que pertencem a outro sem cobrar algo por isto certamente não pode ser considerada “cidadã”. Um funcionário que não consegue fazer o correto, aceitando o pagamento prometido por isto, não pode ser considerado uma “peça essencial” para a empresa. Um condutor que não consegue parar antes da faixa de pedestres, o pedestre que não espera, em cima da calçada, sua vez de atravessar a rua, uma pessoa que finge estar gestante para entrar numa fila preferencial e outros tantos exemplos que assistimos exaustivamente todos os dias são ações que moldam o perfil da sociedade que estamos criando.
Caro leitor, pense sobre as suas ações hoje para que não criemos uma sociedade baseada no “aqui se faz, aqui se recebe!”.

Edilson Aguiais é Vice-presidente do Corecon-Acadêmico e Consultor de Empresas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A importância do Planejamento Estratégico em tempos de crise















A “palavra de ordem” do mercado é competição. Em todas as atividades que o homem busque fazer sempre existirá competição. Não será preciso citar Darwin e sua famosa “Lei da Evolução” para confirmar a idéia de competição como uma constante na vida do homem. Em tempos de crise esta competição se torna brutal e sem limites.

Diante deste acirrada competição só existe uma forma de se destacar no mercado: sendo melhor que o seu concorrente. Quando se trata de uma empresa esta situação se agrava de forma substancial pois ela está mais preocupada em produzir do que em fazer um Planejamento Estratégico que traga eficiência.

Esta importante ferramenta de controle dos objetivos da empresa, o Planejamento Estratégico, demanda tempo, que é uma coisa normalmente escassa para o administrador pois ele estará mais preocupado com as decisões operacionais em detrimento do planejamento de uma base sólida para o futuro da empresa. Este planejamento visa nortear os caminhos a serem trilhados pela empresa de forma a evitar decisões precipitadas, e geralmente errôneas, sobre o futuro da empresa.

A palavra strategia vem do grego antigo e significa a qualidade ou habilidade do general. Pode ser considerado como um conjunto de ações a serem desenvolvidas de modo a dar certa vantagem sobre o inimigo. A estratégia é o diferencial “positivo” que o participante tem sobre os demais.

Depois de serem largamente utilizadas no meio militar, as técnicas de organização estratégica chegaram às empresas. Assim como no contexto militar, o ambiente organizacional irá bem quão melhor for a estratégia adotada pela empresa. A empresa como menor unidade produtiva do mercado deve estar atenta às constantes mudanças que ocorrem no cenário externo e se preparar de forma adequada enfrentar os desafios inerentes às evoluções do mercado.

É este sentido que vamos buscar para compreender dentre as diversas opções a ser escolhidas, a melhor a ser aplicada diante do contexto da empresa. A estratégia empresarial é o conjunto dos meios que uma organização utiliza para alcançar os objetivos. Tal processo envolve decisões que definem os produtos e os serviços para determinados clientes e mercados e a posição da empresa em relação aos seus concorrentes.

A estratégia tem se apresentado como item fundamental para o bom andamento da empresa visto que é ela que dá a “vantagem competitiva” à empresa. Este termo nada mais é do que “estabelecer uma meta adequada, que se fundamente em dois fatores: objetivos coerentes e compreensão do negocio”. Estes objetivos são tidos como necessários para que a empresa atinja um desempenho superior às demais e deste modo se destaque no mercado concorrencial.

As atividades desenvolvidas pela empresa são resultado das decisões gerenciais previamente tomadas. O processo de planejamento é um processo de tomada de decisões interdependentes, decisões estas que procuram conduzir a empresa para uma situação futura desejada. Como não existem “bolas de cristal” para prever o comportamento futuro da economia é necessário recorrer a métodos de estimação para balizar a tomada de decisões.

É fundamental fazer um planejamento antecipado das ações a serem tomadas. Na elaboração do Planejamento Estratégico, o empresário deixa de utilizar-se do empirismo e passa a buscar fundamentação na administração científica para fazer as escolhas.

Se empresa trabalha sem planejamento as atitudes tomadas pelos gestores aparecem apenas como medidas paliativas ou “para apagar o incêndio”. Como conseqüência, as ações são limitadas pois agem nos sintomas e não nas bases de sustentação dos problemas apresentados.

Portanto, principalmente em tempos de crise, o empresário não deve assumir riscos desnecessários. A elaboração de um planejamento consistente e conciso objetiva nortear as atitudes a serem desenvolvidas pela empresa durante toda a gestão e pode ser o diferencial da empresa num mercado altamente competitivo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Porque ser um economista?














Publicado na sessão de Economia do Jornal Diário da Manhã em 14/08/09.

Dúvidas acerca das necessidades de produção de bens num país sempre existiram. Este fato, por si só, faz da economia uma das mais antigas ciências na história da humanidade. No dia 13 de Agosto de 1951, a profissão foi devidamente regulamentada no Brasil e, desde então, passou a ser comemorado o Dia do Economista nesta data todos os anos. Assim, este profissional passou a ser o principal responsável pela interpretação dos fatos econômicos que afetam a vida de todas as pessoas do país.
Normalmente, quando falo para as pessoas sobre o economista ou sobre ter esta ciência como sua profissão, logo alguém me diz: “Não é pra mim. Tem muita matemática!”. Na verdade, o uso da matemática existe mas não como fim em si mesmo. Os cálculos matemáticos e/ou financeiros serão utilizados para comprovar e prever situações e comportamentos baseados em dados confiáveis. Não basta ser bom em matemática para ser economista pois, caso fosse assim, todos professores de matemática seriam economistas e vice-versa. Para ser um economista é preciso ter profundo conhecimento sobre a sociedade, seus modos de vida, de produção, de consumo, de educação, etc.
“O Economista é um cientista social. É ele que estuda o comportamento da sociedade e também o comportamento do indivíduo quando está nesta sociedade” é o que sempre costumo dizer quando alguém me indaga o motivo de ter escolhido tão grata profissão. O IBGE, na sessão ”teen” do seu site, deixa claro que o profissional de economia deve ter também bons conhecimentos em história, sociologia e política. Além disto, é preciso entender que a Economia é uma ciência humana (e não exata, como muitos acreditam).
“Para ser um bom Economista, o profissional precisa ser altamente atualizado, precisa entender como as políticas adotadas pelo governo influenciam no ambiente das empresas, entender o mercado no qual as empresas estão inseridas e produzir seguindo as preferências do consumidor”. Estas são as palavras do Econ. Inimá I. do Brasil quando indagado acerca do que é ser um economista.
O profissional de economia é quem entende e explica de que forma a sociedade usa os seus recursos materiais e humanos para produzir bens e serviços e busca, neste contexto, a máxima eficiência tanto do fator humano quanto dos materiais utilizados. Até mesmo no momento do juramento este profissional jura que irá “utilizar todo o conhecimento adquirido para a promoção do bem-estar econômico e cooperar com o desenvolvimento do país”. Este é o profissional que planeja o futuro das pessoas e que prevê, sem uma bola de cristal, o futuro da economia.
Mas houve também um tempo em que a Economia foi taxada como “ciência sombria”, principalmente pelas previsões pessimistas feitas por alguns estudiosos. O grande e nada popular economista T. R. Malthus (1766 – 1834) chegou a prever uma fome generalizada na Inglaterra do século XVIII. Felizmente, as inovações tecnológicas que surgiram à época livraram aquele país do triste quadro previsto e fez com que Malthus se tornasse um dos mais criticados economistas de toda a história econômica mundial.
No entanto, nem só de sombrias expectativas vivem os economistas. Na década de 30, quando o mundo sofreu a maior recessão da história num episódio conhecido como o crash de 29 foi exatamente um economista, J. M. Keynes, que elaborou o plano que reergueu a economia mundial naquela década. No Brasil, o Plano Real, que expurgou as altíssimas taxas de inflação da realidade brasileira, também foi elaborado por um grupo de economistas que trabalhavam no governo.
Enquanto C. Darwin elaborava a sua teoria da seleção natural (tão conhecida em todo mundo), outro cientista estudava o modo que a riqueza se criava e se distribuía na sociedade. Este cientista era Adam Smith, considerado o “pai da economia” e criador da teoria da “mão invisível” que pregava que, se todas as pessoas buscarem somente o bem próprio, isto levaria ao crescimento da economia.
Mesmo com tantos episódios memoráveis, não foi só no passado que os economistas foram extremamente importantes para a sociedade. Nos dias atuais, principalmente devido à crise econômica que o mundo enfrenta, o economista tem sido bastante consultado. As empresas necessitam de um profissional que tenha conhecimentos para fazer uma análise do futuro da empresa numa economia que está cada dia mais competitiva.
Hoje a atuação do economista está, em boa parte, voltada para a atividade das empresas. Não existe ninguém mais habilitado para fazer o planejamento e controle financeiro das empresas. O economista possui uma formação completa no que concerne ao entendimento da empresa e da sua interação com o mercado. Então, esse é o profissional que domina as ferramentas de controle da empresa e possui ampla formação para entender o mercado no qual a empresa está inserida. No mundo globalizado este conhecimento se torna vital até mesmo para a permanência da empresa.
Foram estes os simples (?) motivos que me trouxeram a trilhar o caminho para ser um economista. E, com a proximidade desta data tão importante que é o Dia do Economista, quero deixar minhas felicitações a todos os ECONOMISTAS que fazem este país. Parabéns a todos estes profissionais que, cumprindo o seu juramento, trabalham para que este país se torne cada dia melhor.


terça-feira, 26 de maio de 2009

Faz tempo que não tenho tempo pra pensar

Aos leitores devo dizer (escrever? não sei) sinceramente que há tempo que não penso. Sim, não tenho tido coragem para pensar a vida (principalmente no Brasil) e, portanto, descrevê-la através de palavras.
Os acontecimentos têm acontecido (ponto). Nada de novo ou importante mas simplesmente o mesmo vai-e-vem de idéias (ou ideias). As mesmas palavras, gestos, caras e bocas. Algumas vezes, há um tempo atrás, me indignava por procurar massa pensante na "massa" e não encontrar. Agora que já não penso (e nem por isto me vejo dançando pocotó) não devo mais me preocupar com isto. Não mais me pergunto, mas pensava antes no nível que os representantes da intelectualidade brasileira chegaram. Não se vê movimentos de engajamento social na sociedade. Tenho certeza que "nada do que foi será denovo do jeito que já foi um dia" para lembrar música do Lulu Santos/Nelson Motta.
Eu creio, pelo que vemos nos últimos dias, que a cultura brasileira (digo cultura tentando trazer a ideia de inteligência) “…encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre” (Chicó, no “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna).
E assim vou prosseguindo, me recusando a pensar pois não posso mais ser maluco beleza.